segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Geografia cultural e Antropologia


             A Antropologia, sobretudo, no seu ramo cultural sempre se caracterizou pelo mergulho total e sem receios sobre o estudo do homem em seu próprio meio, enquanto suas formas de interação social, estrutura e práticas culturais. Nem mesmo os riscos a impediram de estar nas mais distantes regiões do planeta, e isso também se fez representar por renomados pesquisadores, como um Malinowski ou Lévi-Strauss.

             Não me parece que ela tenha titubeado, sobre a intenção e o esforço de ser uma ciência humana, a partir das suas descrições e etnografias. A sua modéstia de entender sociedades em suas singularidades, converteu-se na sua legitimidade e autenticidade científica inquestionável.

              A Geografia surge enquanto ciência, na mesma época da Antropologia, e o que chamamos de Geografia Cultural tomou contorno, com os estudos de Carl Sauer, derivando na Escola de Berkeley, e com os estudos sobre gênero de vida, inaugurados por Paul Vidal de La Blache, na França. Tanto com Sauer ou La Blache, fizeram da paisagem o centro gravitacional onde é estudado as comunidades e sua relação com meio, como o meio sofre as alterações humanas. Embora, na perspectiva labachiana, se acentue as técnicas e os processos de sociais, que fazem com que as comunidades possam superar os entraves e restrições ambientais para seu desenvolvimento.

             Aqui já temos algum material, para confrontar ambas as disciplinas, e a Geografia, me parece tornou-se mais obcecada pela paisagem, enquanto um objeto total, que vincula de forma indissociável os elementos naturais e humanos, captando assim, mais as formas visíveis que seu conteúdo social. E neste ponto, a Antropologia foi mais eficaz, ela esteve entre os homens, se envolveu com a paisagem, para entender não como eles reagem à natureza, mas para compreendê-los em como eles se fazem com a natureza, no seu meio, e assim constituem sociedades singulares.

             Talvez, esse forte aspecto, tenha atualmente chamado à atenção da Geografia cultural, que desde os anos 60 vem se utilizando dos métodos etnográficos para entender a paisagem por dentro da convivência humana. Como destaca Claval, a Geografia, torna-se mais modesta, e se afasta da superioridade de querer entender os grandes sistemas e ideologias. Mas agora compreende que as culturas, como a das cidades, não é um aglomerado heterogêneo de interesses sociais e econômicos apenas, mas um mosaico de várias culturas e modos de vida que são a própria substância daquilo que se chama sociedade. Essa pluralidade não é apenas social, mas espacial em suas várias escalas.

              Isso vem resultando, num olhar mais atento sobre os gêneros, os movimentos sociais, nos grupos etários, etc. Num certo sentido, a geografia vem deixando de apenas olhar o meio, mas tem agora, estando no meio social para, enfim, compreendê-lo socioespacialmente.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Musica o elo do tempo e lugar




Estava eu ouvindo "Qui nem jiló", a letra, é verdade não fala nada de geografia, nem de redes, nem territorialidade. Decerto, nem fala de história, mas fala de sentimentos, e sim, expressa alguma geograficidade. Eu escutava essa música, por uma rádio local, não me recordo agora, em qual voz, sei que era lindamente cantada por uma bela voz feminina. Mas, aí me deu uma vontade de ouvi-la na voz de Luiz Gonzaga, esse que é um dos representantes da música popular brasileira, um representante da nordestinidade. Como já estava no tunel que liga o passado e presente, ou seja, o you tube, resolvi ouvir, também em outras vozes, dessa vez, com outro cantor emblemático do nordeste, na voz de Dominguinhos e na companhia da sua sanfona, para minha sorte, era um video que tinha, o acréscimo de outro convidado genial; mestre Sivuca. Mas, toda essa andança musical,estava me revirando outros sentimentos, bem mais fundo ainda, que me pedia para recordar sobre o onde. De onde a familiaridade, esse desejo de ouvi-la mais. Essa música era algo de mim. O que me fazia ser tocado por essa musica. Ofuscamento do sentimento, deu vazão a imagem, lembrei-me, então, da casa de meus avós, onde já tinha escutado essa musica quando criança. Mas não somente essa música, mas outros vários forrós. Lembrei de meu avô e avó. Recordei de meu avô alegre e satisfeito com sua sonata, ouvindo forró pela casa. Meus avós vieram de Pernambuco, para São Paulo, fazer a vida. Meu avô, sujeito simples e humilde, me contara, certa vez, que presenciou ainda menino, o tropel de Lampião próximo onde morava. Mas agora, estou viajando longe, muito longe, estou a falar de outros lugares e outra época. Tão longe, que não consigo separar presente e passado, lugar agora e lugar outro.
A música é as vezes isso, nosso elo com o passado. Mas também a música é nosso elo com o onde, com a escala de uma casa, de uma rua, de cidade, de uma família. Sim, agora que terminei esse relato pessoal, creio que falei de mim e meu entorno, falei do presente e do passado, do lugar que estou e do lugar que um dia estive, na casa e da figura de meus avós..."saudade o meu remédio é cantar....".

Espaço e identidade




Estamos numa época de mudança em vários níveis de realidade, no que concerne a cultura e a política, assistimos a emergência de grupos, que já defendiam a expressão de suas identidades, a autoafirmação, e isso,  já vem desde os anos 60,  com os direitos civis e políticos. Mas, agora, é tão forte também, a defesa de uma esfera de influência e a exigência do direito de exercer uma espacialidade: de ir e vir, de frequentar lugares, de serem respeitadas onde e a qualquer lugar que forem ou quiserem permanecer. Esse é o espaço, tornado, mais que metáfora, tornado materialmente e socialmente real. A diferença de ser isso ou aquilo, não é o incomum, mas é parte da nossa ontologia, no nível social, é o que possibilita sermos sempre únicos. Sermos únicos é estar num tempo e estar num onde (lugar) e  num jeito de ser. 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Henri Lefebvre - A cidade e o capital





Apesar de Marx não explicitar o papel da cidade na evolução do capital, Lefebvre avança, através do método materialista-histórico, para explorar as etapas da evolução histórica das cidades em relação as suas formas de propriedade e acumulação de capital. Para Lefebvre, o domínio das formas capitalistas se faz a partir da realidade urbana, no e pelo espaço. Também chama atenção que a cidade é o lugar, por excelência, onde se dá o processo de divisão social do trabalho, da separação da produção e da sociedade em favor da acumulação do capital, por parte de uma classe. A produção não é mais domínio total do artesão, ela é dividida e controlada pelo dono do capital. O excedente produtivo e um meio de troca, mas numa escala que vai além do local. Com o ambiente fabril consolidado na cidade, as hierarquias urbanas saem da esfera do comando político, para o domínio do econômico. A cidade é, agora, lugar onde o capital centraliza e comanda seu derredor. A tese de Lefebvre, a meu ver, é pensar a cidade como local não somente de uma lógica capitalista de acumulação e exploração, mas de uma ideologia industrial, que captura o estado e organiza a sociedade para uma trajetória em que não reconhecermos nem a cidade como obra nem a produção como trabalho social.

sábado, 30 de março de 2013

Como vejo a arte pela geografia

Fotografia: National Geography. Produzido por Skye von der Osten
 Como vejo a arte e a geografia: Um pouco devido a algumas leituras teóricas sobre a arte como “A dimensão estética” de Herbert Marcuse, outro tanto pelo caminho que se abre quando se pensa numa ontologia em que a geografia se faz como parte do Ser e outro tanto, porem de forma bem mais prazerosa, simplesmente contemplando a musica, a pintura, a fotografia e outras expressões da arte, venho adquirindo a partir desses caminhos uma concepção de valor e de representação da arte quanto ao papel renovador que ela pode durante um longo sono pensei a arte como um acessório, um simples deleite intelectual ou um tipo de universo paralelo ao mundo dito real.

Tenho agora pensamento diverso disso, chego à conclusão que a obra artística é além de seus outros usos, também uma maneira de lidar com a realidade. É decerto uma atividade dessemelhante às ciências sistemáticas, mas é genuinamente uma busca pela descoberta ou redescoberta da realidade. Claro que a arte não aspira à universalidade, mas com ela se envolve, a arte não se preocupa muito em distanciar sujeito e objeto, mas com esse par epistêmico se entrelaça, é com certeza um trabalho sistemático, exige pesquisa e geralmente é esgotante para o artista física e intelectualmente.


É verdade que as obras artísticas são plasmadas por visões pessoais, às vezes oníricas e sentimentais, mas não se desligam de certa reflexividade com o tempo e espaço que tanto os artistas como suas obras estão inseridos. Por isso, não vejo nenhum contrassenso em afirmar que o artista está dentro de uma geografia e de uma época e, também podem eventualmente expressar de modo estético essas geografias e o tempo de um modo também revelador.

Expressar para mim nesse caso equivse comunicar, entendo que o artista através de seu trabalho artístico desenvolve um tipo de comunicação, pois além de querer se comunicar com o mundo, esta talvez antes de tudo, se comunicando consigo e com o outro.


Sua obra em muitas ocasiões reflete como se sente perante seu entorno, como percepciona e interioriza sua geografia. Essas experiências estéticas são públicas no sentido de compenetrar-se no outro, mexe com nossa maneira ver e sentir o real. Seja alterando o que vê (objetividade) quanto tornando visível aquilo que está invisível aos olhos, nesse ponto o psicanalista francês Lacan parece estar certo quando diz que “a arte poderia nomear o que não se deixa ver”, e a obra artística é uma forma de comunicar a realidade do mundo, dos homens e de suas geografias sob uma visibilidade poética, plástica, musical ou em outras diversas formas de expressão estética



Geografia ciência e geografia estética


Farm Folk Art Landscape Autumn Apple Harvest Fairy Tale Fantasy Rural Fall Country Americana Life. Disponível em: http://fineartamerica.com/featured/farm-folk-art-landscape-autumn-apple-harvest-fairy-tale-fantasy-rural-fall-country-americana-life-walt-curlee.html



A geografia como ciência procura uma lógica do espaço produzido, de uma ordem econômica ou natural que está presente na localização e distribuição, o homem e o meio são parte desse entendimento científico, mas de um modo a estarem presente no processo, vistos como causas. Na estética, a geografia está presente pelo artista e/ou escritor, mas ela é uma ontologia, ela se dá em muitas obras como inseparável do homem e inextrincavelmente ligado ao meio. A estética também faz revelações geográficas, mas do ser. Na expressão artística os seres não somente fazem geografia como se encontram nela como seres. Aliás, se há histórias da arte, porque não falar agora das geografias nas artes.


As construções, estradas, campos cultivados, e outros arranjos espaciais refletem certamente o que os serem de uma determinada sociedade pensam sobre si mesmos e sobre o mundo de seu tempo, há nelas funcionalidades, poder e exaltação de sua glória material. Mas há singularidades, seres que como artistas e escritores falam dessa geografia em suas obras e captam uma ontologia, a do homem e o meio, se permitem criar geografias e que se permitem falar dela sem ter que balbuciar de forma fragmentar essa relação, eles falam da geografia com naturalidade, em uma totalidade.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Musica e Geografia


Musicas e geografia isso é possível, musicas cujas letras nos faz pensar em lugares e com suas descrições, também como a geografia é sentida por aqueles que vivem nesses lugares. 

Mas e quando as musicas não tem letras mas visam mencionar geografias, como aquelas tão bem compostas e apresentadas pelo musico de rock progressivo e neoclássico Vangelis. Ele dedica uma obra inteira a Antártida. Realmente é interessante e ao mesmo tempo indagativo, pois como um artista pode converter uma geografia em musica? Como uma materialidade e um anecúmeno tão vasto e grandioso como a Antártida pode ser experimentada a ponto de converter-se musicalmente em algo tão etéreo e volátil como naquela obra. 

O musico provavelmente deve pesquisar a geografia, ter vívido nela, ter ser inspirado em sua beleza ou uma condição especial dessa geografia acabe por suscitar um sentimento ou uma intelecção, nesse caso, pode ser que a Antártida para Vangelis suscite uma condição enigmática, aquele ar de mistério e solicitude. E dessa subjetividade tão pessoal e pelo trabalho suas musicas alcancem em outras pessoas ou ouvintes uma semelhante experiência, de viajar na música e ao mesmo tempo viajar numa geografia. Quer dizer, pela música ser transportado para uma geografia.  

Sei que é preciso pensar mais sobre essa relação entre estas duas dimensões que se encontram, a pista  ao meu ver, continua sendo aqui, a geograficidade.